Muita gente tem dúvidas sobre o papel e a importância de um gerente de projetos na área de engenharia. Este texto pode esclarecer algumas dessas questões e para isso, vou expor de maneira simplificada algumas das atividades que fazem parte do gerenciamento.
Uma construção, como um prédio por exemplo, é o resultado de um enorme número de esforços.
► O Cliente quer um prédio que atenda suas expectativas.
► O Engenheiro responsável pela obra tem que receber tudo bem documentado, desenhado e explicado para organizar isso na obra e atender o cliente.
► O Arquiteto que fez o projeto, pensou nos espaços, na função, na composição estética e tudo mais, quer fidelidade ao projeto desenvolvido.
Todas as três peças desse quebra cabeça querem um prédio, mas cada um tem sua prioridade.
Um projeto de grande porte, demanda a colaboração de outros especialistas:
Projetista de Cálculo Estrutural,
Projetista de ar-condicionado.
Projetista de instalações elétricas, hidrossanitárias, cabeamento estruturado, SPDA, etc.
Especialista em impermeabilização.
Especialista em combate a incêndio, proteção contra fumaça e fogo.
Conforme o prédio é maior e tem expectativas mais altas pelo cliente, é exigido na fase de projeto, a contratação de mais e mais especialistas e consultores: Esquadrias, Paisagismo, Iluminação, Comunicação Visual, Vedações, Conforto acústico, Estacionamento, Acessibilidade, Elevadores, Certificações, Decoração, Branding.... enfim... Um número enorme de profissionais que devem atender Normas específicas da sua área, às expectativas do arquiteto e do cliente.
Ufa! Agora vamos à prática:
Quem define os profissionais que vão participar do projeto?
Quem convida, analisa, compara os orçamentos recebidos?
Quem controla os contratos desses profissionais?
Perceberam que tem bastante trabalho já mesmo antes das contratações? Isso já é responsabilidade do Gerente de Projetos.
Depois de contratados, trabalhando no projeto, cada disciplina tem suas necessidades e com isso, problemas começam a aparecer.
Um exemplo clássico: o duto de ar-exterior (ar-condicionado) é maior do que o vão deixado pela arquitetura, que foi devidamente replicado no projeto de estrutura. Então é só arquitetura ajustar o tamanho do vão certo? Não é tão simples.
A arquitetura altera a base do projeto, aumentando o vão e diminuindo algum espaço (opa!! isso pode gerar um novo problema, né? Mas nesse exemplo vamos dizer que isso não aconteceu e que é apenas um ajuste do shaft), depois os projetistas alteram seus projetos (base vinda da arquitetura), as planilhas de áreas mudam, consequentemente os quantitativos para orçamento.
Todo mundo tem que saber dessa alteração, se não, os projetos vão para obra com diferença de informação e aí que a coisa complica: “na obra o engenheiro resolve”, esse pensamento é caríssimo e não se aplica para projetos de grande porte pois o custo por dia de um canteiro de obra é extremamente alto.
Cada probleminha desse, a gente chama de APONTAMENTO.
Então para identificar isso, o gerente de projeto fez a compatibilização dos projetos. Pela minha experiência, gerenciamento que faz mais compatibilizações, tem melhores resultados.
Detendo todas as informações, dúvidas, expectativas desse pull de projetistas, somados às necessidades do cliente, ao orçamento, à preservação do projeto arquitetônico, é papel do gerenciamento verificar a construtibilidade, o custo de manutenção, a durabilidade e o impacto das soluções propostas nos projetos e propor alternativas que se enquadrem no empreendimento. É por isso que um bom gerente tem que ter experiência.
O gerente tem que definir metas, estratégias, cronogramas, cobrar o que foi colocado no orçamento, verificar aditivos, controlar os pagamentos, gerir as informações, coordenar reuniões, controlar os pagamentos dos projetistas, taxas, etc.
O gerente de projetos, nos casos em que atuamos, tem a responsabilidade de dar o “último carimbo” nos projetos que é o chamado LIBERADO PARA EXECUÇÃO. Isso quer dizer que, aquela planta ou documento, foi devidamente analisado e compatibilizado e agora pode entrar numa pasta específica que o Engenheiro de Obra tem acesso.
Essa documentação tem que estar o mais perfeita possível! Cada apontamento que não foi identificado, vai gerar um problema na obra que será resolvido pelo engenheiro em campo. Tudo tem solução, mas cada solução custa dinheiro e como eu disse lá no começo do texto: resolver na obra custa muito mais caro!
Lembram das expectativas do Cliente? É sempre ter qualidade com baixo custo de execução, seja para ter lucro ou seja para ter um menor investimento.
Francamente falando, nosso trabalho quando bem feito sai de graça. Entenderam a relação, né?
Nesse exemplo resumido, eu coloquei algumas das responsabilidades e fizemos um apontamento como exemplo. Você imagina quantos apontamentos são vistos num projeto?
Pegando dados do Cícero Sallaberry, sócio fundador da Construflow, uma plataforma específica para gestão dessas informações, dos 90.000 apontamentos dentro da plataforma, 40% deles são por ausência ou divergência de informação.
Um projeto de grande porte como um prédio tem em média 300 a 400 apontamentos.
Já pensou quanto é importante ter alguém olhando cada um desses apontamentos antes deles acontecerem na obra? Quanto isso impacta no tempo de execução e na diminuição do desperdício na construção civil.
Fala aí nos comentários se você conhece algum caso parecido que poderia ter sido evitado.
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